Conhecimentos valiosos sobre plantas medicinais e fitoterápicos sob a ótica da saúde da mulher.


O uso de plantas medicinais é uma prática protagonizada há milênios por mulheres, as quais, em múltiplas culturas, recolhem da terra o saber curativo que mais adiante será formalizado na medicina moderna — que nada seria se não fosse o conhecimento empírico de nossas antepassadas.
Hoje, observa-se um grande movimento de resgate às sabedorias acumuladas de nossas ancestrais. Muitas recorrem ao Sagrado Feminino em busca de cura não somente física, mas também espiritual. Outras pessoas, por sua vez, fazem a escolha de realizar tratamentos com plantas como uma alternativa natural e mais acessível aos medicamentos alopáticos.
No entanto, é preciso de muita cautela, uma vez que, diferente do que se pode pensar inicialmente, o uso de plantas medicinais e fitoterápicos nem sempre é a opção mais segura ou eficaz para tratar questões de saúde. Além disso, seu uso inadequado pode trazer mais consequências negativas que positivas.
Portanto, neste artigo, exploraremos como a fitoterapia pode beneficiar a saúde da mulher e quais são as plantas medicinais mais utilizadas na medicina tradicional segundo o conhecimento popular feminino. Além disso, veremos também os potenciais perigos do uso indiscriminado de fitoterápicos na saúde de mulheres. Vamos começar?
Antes de tudo, o que são plantas medicinais e fitoterápicos?
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) define planta medicinal como aquela que possui substâncias — as quais denominamos princípios ativos — capazes de prevenir, curar ou tratar doenças em seres humanos.²
Se um medicamento é produzido a partir de uma planta medicinal, tal medicamento é chamado fitoterápico. Desse modo, a fitoterapia é a prática de utilizar fitoterápicos no tratamento ou prevenção de doenças.² ³


É provável que os fitoterápicos tenham sido a primeira forma de medicamento utilizada pela humanidade, sendo a mais comum até meados do século passado.³ No entanto, mesmo com o surgimento dos sintéticos, muitos produtos medicinais continuam sendo criados a partir de plantas.²
Vale mencionar que o conhecimento popular sobre plantas medicinais tem sido, desde suas origens até os dias atuais, transmitido de geração a geração, principalmente por mulheres. Isso se deve porque a responsabilidade pelo cuidado da saúde familiar — especialmente de adoecidos, crianças e idosos — frequentemente recai sobre esse segmento da sociedade.¹
Atualmente, há um grande esforço para recuperar esse conhecimento e validá-lo com estudo científico,³ uma vez que esse elo entre a pesquisa científica e o saber popular de mulheres é fundamental para aproveitar os benefícios das plantas medicinais da maneira mais segura e eficaz possível.
Benefícios da fitoterapia para a saúde da mulher
A saúde primária da população feminina brasileira é, em geral, bastante dependente da medicina tradicional. As plantas medicinais são muito utilizadas na manutenção da saúde durante a gravidez, parto e cuidados pós-parto, além de auxiliar na fertilidade feminina, menorreia, controle de natalidade, puerpério e lactação.¹
Com base nas informações do livro Plantas Medicinais e a Saúde da Mulher, de Teresinha de Jesus Aguiar dos S. Andrade e Lis Cardoso Marinho Medeiros,¹ levantamos algumas questões de saúde da mulher que podem ser auxiliadas pelo uso de plantas medicinais, assim como seus riscos e contraindicações. Vejamos:
Tratamento de cólicas e distúrbios menstruais
No combate a distúrbios menstruais (como sangramentos irregulares advindos de miomas uterinos, tuberculose genital ou dengue hemorrágica), destacam-se as plantas medicinais: flor-do-cerrado (Calliandra dysantha Benth), usada para restaurar o fluxo menstrual aos níveis normais, e a catinga-de-mulata ou tanaceto (Tanacetum vulgare L.), que, além de regular os fluxos menstruais, também auxilia na amenização da cólica menstrual.
Ademais, comprovou-se que extratos de Gossypium barbadense L. (algodão com folhas vermelhas) aumentam a contração do tecido muscular liso. Mulheres de Gana relatam que o consumo de extrato de folhas de algodão com vinho de palma leva ao início da menstruação e o consequente alívio da cólica.


Saúde do útero e fertilidade
Um levantamento realizado no Nordeste do Brasil mostrou que algumas plantas medicinais são bastante utilizadas para tratar questões de saúde relacionadas ao útero e à infertilidade.
Entre elas, as folhas de margarida (Calendula officinalis L.) são usadas em forma de chá para combater inflamações, assim como as raízes de embiratanha (Cissus decidua J.A. Lombardi). Além disso, o óleo de espinheiro-marítimo (Hippophaë rhamnoides) ajuda a reduzir a secura das mucosas genitais e possui ação anti-inflamatória. Outras plantas, como a abóbora do rio (Gunnera perpensa) e a borboleta-azul (Scabiosa columbaria), são empregadas para fortalecer o útero e tratar distúrbios uterinos.
Por fim, o resveratrol, uma substância natural presente em uvas, vinho tinto, amendoins e amoras, tem demonstrado efeitos benéficos na recuperação do útero, auxiliando na cicatrização, na formação de novos vasos sanguíneos e na redução de inflamações.
Tratamento de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs)
Desde o início da História até os dias atuais, várias doenças sexualmente transmissíveis são curadas a partir de fitoterápicos. Atualmente, a resistência aos antibióticos contra a gonorreia, que vem se desenvolvendo em todo mundo, é uma preocupação de saúde que leva à busca por alternativas fitoterápicas para o tratamento dessa doença.
Desse modo, o tratamento da inflamação causada por doenças venéreas pode ser feito com extratos vegetais envolvendo casca de baobá (Adansonia digitata), casca de umbila (Pterocarpus angolensis), folhas de jacket plum (Pappea capensis), casca de wisteria africana (Bolusanthus speciosus) e casca de cape ash (Ekebergia capensis).
Na medicina popular brasileira, também se observa a utilização de abobrinha-do-mato — Wilbrandia verticillata (Vell.) — como purgante e depurativo contra a sífilis e a furunculose; e de Angico, ou Anadenanthera falcata (Benth.), para tratar inflamação uterina e doenças venéreas.
Enfim, a sífilis também é tratada tradicionalmente com salsaparrilha verdadeira (Herreria salsaparrilha) e pé-de-perdiz (Croton antisyphiliticus Mart.). Na China e Japão, utiliza-se amplamente Forsythia suspensa (Thunb.) Vahl (sinos-dourados) no tratamento de gonorreia, erisipela, inflamação, pirexia e úlcera.
Saúde durante a gestação
Durante a gestação, a fitoterapia pode auxiliar no alívio de sintomas e complicações, como náuseas e vômitos, infecções vaginais por Candida e até mesmo como suporte nutricional para auxiliar no parto.¹
Entre as principais plantas medicinais comprovadamente eficazes, temos o gengibre (Zingiber officinale Roscoe), o alho (Allium sativum L.), a abobrinha (Cucurbita pepo L.), a mamona (Ricinus communis L.), a folha-amarga ou pau-fede (Vernonia amygdalina Delile), a hortelã-pimenta (Mentha piperita) e o orobô (Garcinia kola Heckel).


Estudos sugerem que 1 g de gengibre por dia é eficaz contra náuseas na gestação. Ademais, seu uso pode representar uma forma alternativa de tratamento para a hiperêmese gravídica.
No entanto, alerta-se que altas doses da planta podem aumentar o risco de sangramento, a produção de ácido estomacal e, em alguns pacientes, a motilidade gastro-duodenal — podendo levar a sintomas como dor abdominal, inchaço, diarreia ou constipação.⁴
ATENÇÃO: A exposição a produtos químicos, medicamentos, ervas e suplementos durante a gravidez pode afetar o feto, de modo que é preciso de muita cautela e informação antes de utilizar qualquer planta ou medicamento durante a gestação.
Endometriose e distúrbios hormonais
Os compostos bioativos presentes em plantas medicinais, devido às suas propriedades antiproliferativas, antioxidantes, analgésicas e anti-inflamatórias, têm demonstrado potencial no tratamento ou na regressão da endometriose, além de influenciarem a endocrinologia reprodutiva em mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP).
As bagas da amora-preta (Morus nigra L.), por exemplo, são utilizadas para tratar inflamações e parar sangramentos. Também serve na medicina tradicional como substituto para a terapia hormonal convencional, além de aliviar os sintomas da tensão pré-menstrual.
Já a peônia-branca (Paeonia lactiflora Pall.), o algodão (espécies do gênero Gossypium sp.) e a cúrcuma (Curcuma longa L.), podem auxiliar no tratamento da endometriose, enquanto as plantas medicinais acteia (Cimicifuga racemosa L.), blackhaw (Viburnum prunifolium L.), camomila-vulgar (Matricaria chamomilla L.) e gengibre (Zingiber officinale) podem ser usadas principalmente na amenização da dor.
Enfim, há evidências de plantas medicinais auxiliando no tratamento da SOP, tais como: hortelã-verde (Mentha spicata), canela (Cinnamomum zeylancum), manjerona (Origanum majorana) e tamareira (Phoenix dactylifera). As referências dos estudos podem ser encontradas no livro de Teresinha de Jesus Aguiar dos S. Andrade e Lis Cardoso Marinho Medeiros.¹


Quais são as plantas medicinais mais utilizadas por mulheres?
O conhecimento popular de mulheres, transmitido de geração em geração e enraizado nas práticas culturais, é um pilar fundamental para o uso seguro e eficaz das plantas medicinais. Complementar esse saber ancestral com o conhecimento científico moderno é crucial para garantir a orientação adequada no uso dessas plantas.
Essa abordagem integrada permite uma compreensão mais profunda dos benefícios e riscos, otimizando o bem-estar e a saúde, garantindo que o uso das plantas medicinais seja feito da forma mais segura e eficaz possível.
Levando esses fatores em consideração, trazemos do Guia prático de plantas medicinais para mulheres — de autoria das enfermeiras Kellyane Moreira e Lis Cardoso Medeiros,³ junto ao geofísico Rodrigo Miranda — um compilado das plantas medicinais mais utilizadas por mulheres assistidas pela Atenção Básica de Bom Jesus–PI:
1. Erva-cidreira
As folhas da erva-cidreira, ou Lippia alba (Mill.) N. E. Br., são bastante utilizadas na medicina popular brasileira como calmante natural e no tratamento de: diarreia, prisão de ventre, dor nos ossos, indigestão, cólica, dor abdominal, dor de cabeça, dor nos ossos, febre, gripe, pressão alta, enjoo, insônia e mal-estar. É, no entanto, contraindicada para pessoas com pressão baixa e crianças de 0 a 5 anos.
2. Hortelã-verde
As folhas de hortelã-verde (Mentha x villosa Huds) são utilizadas para tratamento de transtornos gástricos e diarreia; dor abdominal; parasitoses; bronquite; gripe; trombose; tosse; gastrite; cólica e hipertensão, além de também ser utilizada como vermífugo e calmante.
ATENÇÃO: é necessário identificar corretamente a espécie para o uso seguro, pois o elevado teor de mentol em algumas variedades pode ser letal, levando à parada cardiorrespiratória.
Além disso, é contraindicado o uso de óleo de hortelã para lactantes e para pacientes que possuem refluxo gastroesofageal ou úlceras gástricas ativas. Também pode provocar insônia em pessoas com hipersensibilidade e irritar a mucosa ocular em gestantes.
3. Malva
A Malva sylvestrus L. (malva-comum) é utilizada para tratar infecções, cicatrização de feridas, inflamações na boca, dor de dente e de garganta, gripe, assaduras, tosse, rouquidão, prisão de ventre e outras doenças gastrointestinais. Não há contra indicações na literatura científica, porém se adverte que se deve suspender o uso imediatamente ao final de reações alérgicas.


4. Capim-santo
A folha de capim-santo, de nome científico Cymbopogon citratys (D.C.) Stapf, é utilizada no tratamento de: ansiedade; nervosismo; insônia; dores e tensões musculares, além de ter efeitos calmante e analgésico. Todavia, não deve ser utilizada por gestantes nem em casos de dor abdominal por causa desconhecida ou gastrite.
Além disso, deve ser evitado o uso de capim-santo associado a outros farmacológicos, pois a planta pode promover a diminuição dos efeitos ou provocar reações indesejadas.
5. Folha-santa
A Bryophyllum pinnatum (Lam). Oken, popularmente conhecida como folha-santa, é utilizada para tratar gripe, tosse, inflamação, febre, gastrite e dores no estômago, bronquite, frieira, pneumonia e queimaduras, além de auxiliar na cicatrização.
Relata-se que a planta serve para esterilidade feminina e pode amenizar inflamação no útero. Não há informações sobre contraindicações na literatura científica.
Riscos do uso de plantas medicinais e fitoterápicos para mulheres
É de extrema importância lembrarmos que, assim como todo medicamento, os fitoterápicos não estão livres de efeitos colaterais.
Como mencionado em algumas partes deste artigo, o uso inadequado de plantas medicinais, e dos medicamentos delas derivados, pode levar ao surgimento de efeitos adversos — como intoxicação e reações alérgicas — e até mesmo ao aparecimento de doenças.³
Além disso, muitas plantas medicinais ainda não foram bem estudadas, de modo que não temos informações o suficiente sobre seus efeitos, contraindicações e possíveis interações com outros medicamentos. Sem orientação médica e conhecimento, o uso de certas plantas pode ser prejudicial e até fatal.
Gestantes devem ter especial cuidado com as ervas e chás que consomem, visto que muitas plantas medicinais possuem substâncias que aumentam o risco de sangramento e aborto espontâneo, ou podem afetar o desenvolvimento do feto.
Lembre-se: natural não é sinônimo de inofensivo. Tenha cautela e sempre consulte um médico antes de iniciar qualquer tipo de tratamento alternativo.
Cuidados e precauções na preparação de ervas e chás medicinais


O uso de plantas medicinais exige certos cuidados para garantir sua segurança e eficácia. Antes de preparar qualquer chá ou remédio caseiro, é fundamental identificar corretamente a planta com ajuda de um profissional e verificar se está em bom estado, limpa e livre de contaminações.
Também é importante higienizar bem as mãos e a parte da planta que será usada, sempre com água limpa e filtrada ou fervida. Nunca utilize plantas colhidas próximas a córregos, esgotos ou lixões nem misture diferentes espécies sem orientação médica.
Além disso, o uso conjunto com outros medicamentos deve ser feito apenas com orientação profissional. Seguir corretamente o modo de preparo e a dosagem recomendada também é essencial. Enfim, em caso de qualquer efeito indesejado, procure imediatamente uma unidade de saúde.
Seguem alguns guias de boas práticas e receitas de uso de plantas medicinais, consultados na criação deste artigo:
• Orientações sobre o uso de fitoterápicos e plantas medicinais, da Anvisa;
• Guia prático de plantas medicinais para mulheres, de Kellyane F. G. Moreira, Lis C. M. Medeiros e Rodrigo G. Miranda.
Conclusão
No contexto da saúde da mulher, a fitoterapia é um importante recurso para lidar com questões específicas como cólicas menstruais, distúrbios hormonais, fertilidade, gestação, puerpério e doenças sexualmente transmissíveis.
Ainda assim, é fundamental compreender que a utilização dessas plantas não é isenta de riscos: a falta de padronização, as interações medicamentosas, as contraindicações e o uso inadequado das dosagens podem comprometer a eficácia terapêutica e até mesmo colocar em risco a vida da paciente.
Por isso, a integração entre o saber tradicional e o conhecimento científico é fundamental. Essa abordagem integrada pode contribuir para uma prática mais humanizada, crítica e consciente, garantindo que o uso das plantas medicinais seja, de fato, um instrumento de promoção da saúde e do bem-estar tanto das mulheres como do restante da população.
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Referências
1. ANDRADE, Teresinha J. A. S & MEDEIROS, Lis C. M. Plantas Medicinais e a Saúde da Mulher. Coautores: Kelsen Dantas Eulálio… [et al.]. Teresina: EDUFPI; UFPI, 2021.
2. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Orientações sobre o uso de fitoterápicos e plantas medicinais. Brasília: Anvisa, 2022.
3. MOREIRA, Kellyane F. G.; MEDEIROS, Lis C. M.; MIRANDA, Rodrigo G. Guia prático de plantas medicinais para mulheres. Teresina: EDUFPI; UFPI, 2019.
4. MOTILIDADE gastrointestinal. UC San Diego Health, [s.l.], c. 2025.





