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A Arte Psicodélica da Contracultura: Música, Cinema e Literatura

Montagem de Jimi Hendrix com o filme "2001: Uma Odisseia no Espaço" e um cogumelo mágico.
9 de setembro de 2024 302 visualização(s)

A Arte Psicodélica da Contracultura: Música, Cinema e Literatura

Montagem de Jimi Hendrix com o filme "2001: Uma Odisseia no Espaço" e um cogumelo mágico.Montagem de Jimi Hendrix com o filme "2001: Uma Odisseia no Espaço" e um cogumelo mágico.
Jimi Hendrix, "2001: Uma Odisseia no Espaço" e um cogumelo mágico.

 

A arte psicodélica deve sua inspiração às substâncias que a nomeiam: utilizados há milênios em culturas tradicionais, os psicodélicos começaram a ganhar popularidade ao nível mundial a partir da segunda década do século XX. Além do interesse científico sobre os potenciais benefícios dessas substâncias para o tratamento de transtornos mentais e emocionais, os psicodélicos chamaram a atenção da população em geral pelos seus efeitos de alteração no humor e distorção da realidade.

Essas substâncias — que abrangem princípios ativos de plantas como os cogumelos mágicos (em especial, o Psilocybe cubensis e o Amanita muscaria) e a bebida Ayahuasca, além de drogas artificiais como o LSD — foram um dos principais componentes da contracultura dos anos 1960, sobretudo no movimento hippie norte-americano, o qual defendia principalmente o antimaterialismo, o amor livre, o questionamento do Governo e o fim das guerras.

Assim, ocorreu nesse período uma ampla criação de arte psicodélica em todas as formas de produção artística: na pintura, no grafite, nas HQs, na música, no cinema, na literatura, entre muitas outras formas de expressão. Vejamos a seguir como a arte psicodélica é caracterizada e sua manifestação na cultura pop e underground, nacional e internacional.

As características da arte psicodélica

A psicodelia, como um movimento estético, não surgiu isoladamente, e suas influências podem ser traçadas da Beat Generation até o Art Nouveau. O uso de padrões florais e cuidado com os detalhes remetem, sobretudo, às inovações de Gustav Klimt na arte visual. Além disso, a literatura da Geração Beat nos Estados Unidos influenciaram diretamente o movimento hippie, repercutindo na arte psicodélica.

Quanto aos aspectos formais, a psicodelia é notoriamente vibrante e saturada em termos de cor. As paletas de cores são frequentemente intensas e contrastantes, criando um efeito visual impactante que reflete e amplifica a experiência sensorial alterada. Este uso exuberante da cor visa capturar e simular a expansão da consciência e os estados mentais alterados.

Essas mesmas características podem ser observadas em outras formas de arte que não visuais: a distorção da realidade e perda da percepção do tempo e espaço é representada por meio da distorção dos meios de expressão utilizados, sejam eles o som, a linguagem ou a visão, e cada tipo de arte traz suas próprias inovações estéticas.

Música psicodélica

Montagem de Jimi Hendrix com Kevin Parker (da banda Tame Impala) e os integrantes da banda Os Mutantes.Montagem de Jimi Hendrix com Kevin Parker (da banda Tame Impala) e os integrantes da banda Os Mutantes.
Jimi Hendrix, Kevin Parker (Tame Impala) e Os Mutantes.

 

Na música, a psicodelia é caracterizada por um uso inovador de efeitos sonoros, como o wah-wah, o delay e a distorção, que criam paisagens sonoras únicas e muitas vezes etéreas. Capa de álbuns, pôsteres e outras formas de arte gráfica associados às canções frequentemente apresentam padrões vibrantes, formas distorcidas e cores saturadas que complementam a experiência musical.

As letras das músicas psicodélicas exploram muitas vezes temas de viagem mental e experiências transcendentais. O uso de imagens oníricas e metáforas complexas é uma característica marcante, muitas vezes fazendo com que as músicas se assemelhem a jornadas surrealistas mais do que a narrativas lineares tradicionais.

A banda The Jimi Hendrix Experience é reconhecida como uma das principais influências do rock psicodélico. Além desta, muitos são os artistas e bandas que contribuíram para a produção musical psicodélica. Para citar alguns, as bandas The Doors, Tame Impala, Cream, King Gizzard & The Lizard Wizard, Pink Floyd, The Velvet Underground e 13th Floor Elevators são grandes nomes na música psicodélica internacional.

Já no Brasil, a influência da arte psicodélica é observável, em geral, em artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes e Gala Costa. O rock psicodélico brasileiro tem como seu principal representante a banda Os Mutantes. Ademais, não se pode deixar de mencionar a relação de influência do movimento Tropicália com o psicodelismo internacional, que inspirou as estéticas tropicalistas.

Cinema psicodélico

Montagem do pôster do filme "The Trip" (1967) com uma cena na nave espacial de "2001: Uma Odisseia no Espaço" (1968) e o pôster do filme "Bandido da Luz Vermelha" (1968).Montagem do pôster do filme "The Trip" (1967) com uma cena na nave espacial de "2001: Uma Odisseia no Espaço" (1968) e o pôster do filme "Bandido da Luz Vermelha" (1968).
"The Trip" (1967), "2001: Uma Odisseia no Espaço (1968)" e "O Bandido da Luz Vermelha" (1968).

 

Por meio de imagens fantásticas e perspectivas distorcidas que tomavam precedência sobre a narrativa tradicional, a arte psicodélica providenciou ao cinema experiências sensoriais e perceptivas inéditas. O cinema psicodélico não apenas inovou na estética e técnica, mas também expandiu as possibilidades de como os filmes podem alterar e intensificar a percepção da realidade.

No cinema underground, surgiram clássicos cult que exploravam as experiências de mente alterada proporcionadas pelos psicodélicos. Exemplos notáveis incluem The Trip (1967) de Roger Corman e o musical Head (1968), dos Monkees, ambos de Jack Nicholson. Além disso, filmes como El Topo (1970), de Alejandro Jodorowsky, e The Last Movie (1971), de Dennis Hopper, contribuíram com uma perspectiva simbólica e crítica sobre a contracultura e seus ideais, enquanto os documentaristas Ed Pincus e David Neuman, com One Step Away, ofereceram críticas e análises da influência psicodélica na cultura hippie.

O mainstream também abraçou a estética psicodélica, com filmes como 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick, e Medo e Delírio em Las Vegas (1998), de Terry Gilliam, sendo o primeiro possivelmente o maior representante do cinema psicodélico nesse período. Além desses clássicos, Robert Altman, com 3 Women (1977), e Kenneth Anger, com Inauguration of the Pleasure Dome (1954) e Lucifer Rising (1972), exploraram visões alucinatórias e aspectos ocultos, ampliando a percepção do espectador.

No Brasil, a psicodelia se manifestou no cinema por meio da experimentação com diversos gêneros e técnicas. A maior constante dos filmes brasileiros desse ramo é o uso da arte psicodélica para debater assuntos políticos e sociais, e denunciar desigualdades. Como destaques, temos Meteorango Kid, Herói Intergalático (1969), de André Luiz Oliveira; O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla, e, enfim, os mais contemporâneos de influência psicodélica: Amarelo Manga (2002), de Cláudio Assis, e Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.

Literatura psicodélica

Montagem da fotografia de Aldous Huxley com a ilustração do livro "High Priest", de Timothy Leary, e capa do livro "Os morcegos estão comendo os mamões maduros", de Gramiro de Matos.Montagem da fotografia de Aldous Huxley com a ilustração do livro "High Priest", de Timothy Leary, e capa do livro "Os morcegos estão comendo os mamões maduros", de Gramiro de Matos.
Aldous Huxley; "High Priest", de Timothy Leary, e "Os morcegos estão comendo os mamões maduros", de Gramiro de Matos.

 

A literatura psicodélica ficcional é marcada por uma linguagem delirante e uma narrativa fragmentada e não linear, repleta de imagens alucinatórias e metáforas. A realidade é frequentemente distorcida ou desafiada, enquanto elementos místicos e espirituais são entrelaçados na narrativa para expandir a compreensão do leitor sobre a consciência e a existência. Entre as obras estrangeiras ficcionais inspiradas pela experiência psicodélica, podemos citar: V, de Thomas Pynchon; Um Estranho no Ninho, de Ken Kesey; Medo e Delírio em Las Vegas, de Hunter S. Thompson, entre muitos outros.

Muitos autores aventuram-se a escrever sobre suas próprias experiências com psicodélicos, buscando transmitir a sensação de expansão da mente e a revelação de novas dimensões da realidade. Obras como Joyous Cosmology, de Alan Watts, e As Portas da Percepção e Céu e Inferno, ambas de Aldous Huxley, exemplificam essa busca, combinando observações pessoais com reflexões filosóficas e científicas.

A literatura psicodélica também é marcada por um forte elemento autobiográfico e biográfico. Autores como Timothy Leary, em High Priest; Terence McKenna, em Alucinações Verdadeiras, e Albert Hofmann, em LSD: My Problem Child, documentaram suas jornadas e pesquisas, oferecendo não apenas relatos das suas experiências com drogas psicodélicas, mas também reflexões sobre suas implicações culturais e espirituais.

A arte psicodélica na literatura brasileira, por sua vez, emergiu na década de 1960, com obras pioneiras como Deus da chuva e da morte, de Jorge Mautner, e Panamérica, de José Agrippino de Paula, que utilizaram a estética psicodélica para refletir sobre questões políticas e culturais, misturando autobiografia, mitologia e crítica social. Na década de 1970, o movimento contracultural se consolidou com romances como Urubu-Rei e Os morcegos estão comendo os mamões maduros, ambos de Gramiro de Matos.

Enfim, no final dos anos 70, a literatura psicodélica brasileira transformou-se em um meio de denúncia das atrocidades do regime militar, com autores como Renato Tapajós, na obra Em câmera lenta, e Fernando Gabeira, com O que é isso, companheiro?, usando o delírio como uma metáfora para a repressão e os traumas do período.

A influência duradora dos psicodélicos na arte

Os psicodélicos tiveram, na cultura pop e underground, uma influência profunda e duradoura, refletindo em diversas formas de expressão artística e midiática. Desde o auge do movimento contracultural dos anos 1960, quando a psicodelia moldou a arte, a música, o cinema e a literatura, esses efeitos visuais e sensoriais têm permeado e enriquecido a cultura popular. A estética vibrante e a exploração das fronteiras da consciência continuam a inspirar artistas e criadores, que frequentemente revisitam e reinterpretam esses temas.

O impacto da arte psicodélica vai além da contracultura original, influenciando novas gerações de artistas e se integrando de maneira inovadora à cultura mainstream e alternativa. Essa continuidade na influência dos psicodélicos revela um fascínio duradouro por expandir as percepções da realidade e explorar novas dimensões da experiência humana, garantindo seu lugar como uma força significativa na arte e na cultura global.

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Referências

BRAGA, Eduardo Cardoso. “Summer of Love”. Os inícios da Arte Psicodélica. Concept, 11 de jan. de 2014. Acesso em: 04 de set. de 2024. 

HISTÓRIA e uso cultural de psicodélicos. Instituto AlmaViva, 28 de fev. de 2023. Acesso em: 04 de set. de 2024. 

LOSSO, Eduardo Guerreiro B. A peregrinação artística de um tropicalismo psicodélico: para uma análise do LP Mutantes, de 1969. Instituto Humanitas Unisinos, 08 de nov. de 2021. Acesso em: 04 de set. de 2024. 

PSYCHODELIC Cinema. Harvard Film Archive, c. 2024. Acesso em: 05 de set. de 2024.

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